A gente não escolhe vir a esse mundo, talvez essa seja a única coisa que realmente não deliberamos sobre nossa vida.
Há um bom tempo venho matutando os efeitos de algumas escolhas que fiz e que me fizeram chegar (ou voltar) para onde e como eu estou hoje. Isso me fez perceber que as escolhas são inevitáveis, assim como as consequências delas, ainda que tardias.
Algumas escolhas são boas de se fazer, eu amo escolher o que cozinhar para os meus amigos, o vinho vou comprar; outras me comem o juízo e me deixam com as pernas inquietas, como as decisões que envolvem Brasília…
Eu não sei se estou numa sinuca de bico ou entre a cruz e a espada, só sei que tudo precisa ser decidido o mais rápido possível: levar a mudança ou vender tudo? Alugar apartamento mobiliado ou não? Priorizar localização ou o AP? Dinheiro ou um pouco mais de conforto? E se alguém que eu amo for embora enquanto eu estiver longe?
Essa tempestade de verão em vez do cheiro de terra molhada, me cheira a medo do arrependimento, do erro dos traumas dos antigos retrocessos.
Por incrível que pareça, eu nunca fui uma pessoa medrosa, muito pelo contrário, sempre me achavam corajosa e desenrolada na vida. Aos poucos, a maturidade engole a adrenalina e a inconsequência dos jovens e eu posso ter me tornado uma evidência disso.
Ontem eu ouvi alguém dizer que tudo o que acontece em nossa vida é responsabilidade nossa, isso ecoou mais que a voz de Bethânia na minha mente e eu conclui que é isso: é o medo da responsabilidade pelo nosso próprio fracasso, mas também acho que a gente tem medo de que as coisas deem certo por acreditarmos que não as merecemos tanto assim, a conhecida autossabotagem.
Quando eu tomo coragem de olhar pra mim, eu vejo um bocado de indecisão, misturada com medo e bem temperada de autossabotagem, daí eu me apodero daquele alter ego desenrolado, corajoso e juvenil que ainda existe na minhas lembranças pra me convencer de que não adianta sofrer pelo que foi, muito menos temer o que pode vir, é como aqueles tais presentes misteriosos: pode ser que 2 reais valessem mais, mas também pode ser que me arranquem as melhores risadas que dinheiro nenhum pagaria.
Só me resta jogar meu corpo no mundo, como os Novos Baianos, agora em terras Brasilienses.